Felicidade


Felicidade

Talvez o paraíso seja uma esfera.
Porque a esfera é resultado da rotação do objeto mais perfeito do universo: o círculo.
Mas como tudo é relativo, o meu paraíso se forma não apenas com esta figura geométrica.
Mas também com outras.
Não tão perfeitas quanto o círculo.
O meu céu é construído com a hipérbole que formamos pra dormir.
Com a elipse formada quando você me abraça.
E também com o círculo de sentimentos bons que me envolvem quando você está por perto.
Todos estes lugares geométricos rotacionados resultam na quádrica que denomino Nosso PARAÍSO.
Que nunca será tão perfeita quanto a esfera idealizada inicialmente.
Visto que, por definição, nunca será uma superfície de revolução.
Ou seja, não exibirá uma simetria em relação a algum eixo.
Porém, esta quádrica assume função análoga a inicial e é suficiente para me fazer feliz por toda eternidade.

Viviane Ezequiel

O gráfico do amor


O gráfico do amor

Um dia, vivi um amor!
Gostoso, atencioso, caloroso…
A intensa necessidade de estar era notória,
Meu amor aumentava, e sua correspondência também…
Muito mais do que a minha, …
As manhãs eram gostosas,
As tardes eram alegres, e
As noites? quentes…ah…
E o tempo passando…

Meu amor foi crescente…
Situado ao primeiro quadrante…
Sem defeitos, sem tristezas…
Tendia ao infinito por vontade…
Mas existe amor eterno?
Será que cresceria eternamente?

Existe um tempo, onde uma causa…
Imperdoável causa esta, que nos entristece..
Que leva ao tombo, ao fim, ou ao intervalo?
Esperança minha que seja um intervalo…
Mas que grande intervalo…
Retrógrado, para partir do mesmo ponto..
Para recomeçar com a mesma intensidade…

Mas o infinito existe, existe o para sempre?
Ou o infinito é um pensamento imaginário…
Desejoso e necessário ao coração, às emoções…
O crescer pode até não ser infinito,
Mas sonho com a tranqüilidade, com a bonança…
Com o equilíbrio das emoções…
Ainda sonho com o meu amor…
Quem sabe voltando para mim….

June Cunha de Araujo

Amormetria


Amormetria

Dê-me um apoio (centro)
Num piscar de olhos me transformo em um compasso
Giro 90º, 180º, 270º, 360º graus
Volta completa na circunferência chamada vida.

Dê-me uma régua ou uma trena
Com ela conseguirei medir ou não nossa distância
Que parece infinita.

Dê-me um transferidor para medirmos os graus do nosso amor.
Um esquadro
Quem sabe ele possa nos enquadrar.

Dê-me um ponto
Por ele passarei infinitos segmentos de sentimentos
Paixão, amor, raiva, ressentimento, gratidão…

Só não me limite com dois pontos
Pois, não saberia que segmento de sentimento
Passaria por eles.

Edi Santana Barbosa
Professor da rede Estadual e municipal de Juazeiro BA
Pós-graduado em Metodologia e Didática do Ensino Superior

A dificuldade da poesia


A dificuldade da poesia
Érico Nogueira
De Roma

É, pessoal, não tem jeito: poesia é um troço meio hermético mesmo, meio “difícil”, não há o que fazer. É claro que toda grande arte, quando exercida com competência, tem lá uma boa dose de complexidade, sem dúvida; mas a poesia – e, em especial, a grande poesia – parece que nunca chega a descer muito bem na garganta do público leitor. No fundo ela é como o Campari: doce no início, amarga no final, e restrita a um grupo de excêntricos

É claro que décadas de educação desconstrucionista e de doutrinação politicamente correta acabaram fatalmente por desconstruir alguma coisa, e por mudar um pouco a sensibilidade do leitor comum, em geral arredio à poesia. Mas isso não importa muito: o fato é que, feitas as contas, a impertinência da poesia é prova de que o sonho iluminista, que pretendia transformar o homem em “cidadão”, – ou, traduzindo, a inteireza da pessoa humana em RG, CPF e título de eleitor – era na verdade um terrível pesadelo. Robespierre que o diga.

O que eu quero dizer é que a “dificuldade” da poesia, e a sua baixa audiência em relação às outras artes, mostram que nem tudo o que é humano é passível de homogeneização. Cada um de nós é um bicho “difícil”, que tem lá as suas particularidades, que não dá pra simplificar: a poesia responde justamente por isso.

Essa minha idéia nem é minha, a bem da verdade. É do poeta inglês Geoffrey Hill (n. 1932), eleito recentemente para a cátedra de poesia da Universidade de Oxford, e normalmente considerado como o maior poeta vivo da sua língua. Eis o que ele diz numa entrevista arrasadora concedida à Paris Review em 2000.

“Os seres humanos são difíceis. Somos difíceis para nós mesmos, somos difíceis uns para os outros, e também somos um mistério para nós mesmos, um mistério uns para os outros. Encontramos muito mais dificuldade – e dificuldade real – em qualquer dia comum do que na mais “intelectual” das obras de arte. Por que a poesia, a prosa, a pintura têm de ser menos do que nós somos? Por que a música, por que a poesia tem de nos falar em termos simplificados, quando, se nos tratassem assim, simplificadamente, ficaríamos todos muito ofendidos?”

Falou e disse.

Érico Nogueira é poeta e tradutor. Ganhou o “Prêmio Governo de MG de Literatura” de 2008 com O livro de Scardanelli. Escreve também no Ars Poetica, blogue de poesia. Atualmente vive em Roma, onde desenvolve pesquisa na área de língua e literatura grega.